
Na sua famosa obra, “A História”, Heródoto conta que os Persas jamais tomavam uma decisão importante sem fazer três reuniões.
Uma para deliberar calculada e cuidadosamente os fatos. Outra para literalmente viajar, em que eles discutiam apaixonadamente sobre a questão em pauta, com a ajuda de muitas ânforas de vinho. E a terceira, já sóbrios, com o objetivo de fazer uma síntese de tudo que foi debatido, para que a decisão pudesse ser finalmente acordada.
Bacana, esse modelo.
Bacana não só porque um bom vinho pode ser realmente algo sublime, claro. Mas porque acreditamos que essa combinação de “análise” e “sonho” está hoje na essência das marcas de sucesso.
Isso é uma novidade.
Durante muito tempo, tudo que muitas empresas queriam eram mais informações confiáveis sobre o consumidor e o mercado, dados que possibilitassem a tomada de decisões racionais.
Na prática, você sabe do que estou falando: dezenas de tabelas, centenas de depoimentos com a voz do consumidor…
Na nossa opinião, havia um ponto de vista filosófico amarrando todo esse jogo: o de que a paixão obscurece a razão.
Pode acreditar, times envolvidos com marcas de sucesso não pensam mais assim.
Claro que todos continuamos buscando ansiosamente mais informações. “Ah, Senhor, dái-me a fome nossa de cada dia”. Não podemos nunca deixar de ser curiosos e perder nosso apetite por saber mais sobre nossos consumidores e marcas.
Mas meu ponto é que toda essa informação é muito mais valiosa quando é ponto de partida para o sonho criativo. Ou seja, informações sobre marcas e consumidores servem não apenas para explicar e definir, mas principalmente como plataformas para a inovação, como verdadeiros tapetes voadores.
Quem entendeu bem esse ponto foi o fantástico poeta brasileiro Manoel de Barros, que já dizia: “é preciso saber errar bem o português”.
É isso. Conhecer tudo a fundo, cada regrinha gramatical, para depois poder viajar e genialmente contrariá-las.
Marcas não podem ser administradas apenas com gráficos. Voltamos para a síntese: marcas inovadoras contam com líderes analíticos e apaixonados. Sem paixão, o resultado é previsível: são desenvolvidas marcas frágeis, indecisas, com um pouco de tudo para cada um…
Adoro a definição que diz que foco é “a concentração do máximo no mínimo”. Perfeito, a paixão é essencial para qualquer atividade humana, pois justamente é ela que tem o poder de concentrar e canalizar a nossa vontade.
E é ela que torna possível o novo.
Quem já se apaixonou, sabe do que estou falando.